quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Aniversário da Fifi

A festa é da poodle toy, mas a família Merlin comemora ao ver a Vovó Lourdes, que sofre de Mal de Parkinson, em atividade


Rafael Urban

Equipe da Folha*


Fotos: Diego Singh

Fifi acompanha Vovó Lourdes em todas as atividades. Ela protege a sua dona e os amigos alertam: ‘No colo ela é um perigo’



Filha de Shaquille O‘Neal e Chaiene, registrada sob o PRG 01/04625, a poodle toy Josephine Merlin completou sete anos de idade neste mês. No domingo passado, a família Merlin comemorou o seu aniversário com uma festa que já é tradição na residência construída em 1902, no Centro de Curitiba. Fifi, como é conhecida a pequena bolinha preta e peluda, 40 centímetros do rabo ao fuço, chegou na casa em 2001.

A dona oficial da cachorrinha é Maria de Lourdes Merlin, 86 anos. No começo de 2000, vovó Lourdes estava triste e deprimida. Na casa construída por seus pais, Luiz e Virginia, os únicos animais restantes eram aqueles que viviam em sua lembrança: Cravinho, Violeta e Piri. Depois de um derrame, da chegada do Mal de Parkinson e de uma ponte de safena no coração, Lourdes estava sem motivações para seguir adiante. Isabel, sua irmã, pediu que sua sobrinha Virginia escutasse sua prece: ela queria um cachorro.

Fifi veio dentro de uma sacola trazida de ônibus por Nilce Firmino de Cruz, 51, a dona do Quenfileds’s Kennel – grafado erroneamente graças ao pouco conhecimento na língua inglesa do responsável pelo registro. Nilce ficou muito incomodada: achou que a cachorrinha só ia levar confusão para a família, fazendo xixi por todos os lados e que, por fim, a senhorinha não ia dar contar de tamanha energia. Porém, dos mais de mil animais que já criou, Fifi foi dos que mais lhe trouxe boas recordações. ‘‘Era como se tivesse chegado um bebê. A casa era uma alegria só’’, lembra.

Desde então, ano após ano, comemoram o aniversário da Fifi. ‘‘O cachorro é só uma desculpa. A idéia é motivar a avó e também recolher doações. Acredito piamente que ela tem na Fifi a motivação para viver’’, conta Ewalda Stahlke, dermatologista, que é amiga da família há mais de 20 anos e ocupa o cargo de ‘‘palpiteira oficial’’ nos preparativos para a festa que começam 30 dias antes.

Ao invés de presentes, o convite pede que se leve dois quilos de ração para serem doados aos mais de 800 cães e gatos da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba, a qual vovó Lourdes ajuda há décadas e que foi escolhida para receber os donativos deste ano. Os 80 convidados levaram 243 quilos de ração.

Borboleta
As festas, sempre temáticas, já passaram por ‘‘circo’’, ‘‘praia’’ e ‘‘anos 50/60’’, em que um conhecido fez as vezes de Elvis cover. Os gastos, por sinal, são mínimos e sempre contam com a ajuda de amigos e familiares que se tornam voluntários. O tema deste ano foi eleições. ‘‘Sempre escolhemos algum assunto que a minha mãe goste muito’’, comenta Virginia Merlin, 50, que tem duas irmãs e um irmão.

‘‘Não é uma festa para cachorro, mas uma festa beneficente para arrecadar fundos para cachorros carentes’’, diz Virginia. ‘‘É uma reunião de amigos’’, completa vovó Lourdes. Do tema eleições, estabeleceram uma decoração a partir do símbolo de uma borboleta, o partido da ‘‘cãodidata’’.

Ao chegar na casa, cada um dos convidados recebia uma pequena cédula de papel para deixar uma mensagem e confirmar o seu voto na candidata única Josephine Merlin, do Partido Borboleta. ‘‘Um animal alegre e colorido, que voa de galho em galho como um político troca de partido’’, explica a filha Virginia.

Ao fundo, toca a ‘‘Marchinha para Vovó Lourdes’’, umpresente de Reinaldo Godinho, que já fez diversos jingles para campanhas políticas. ‘‘É Josephine aqui, é Josephine ali, é Josephine lá! No colo da Lourdinha, ela é preta, do Partido Borboleta.’’ A música se alterna com uma gravação do carro dos sonhos, esses também vendidos por políticos.

Por toda a casa, preparada para a festa em seu interior e exterior, foram distribuídas pequeníssimas borboletas de papel, feitas uma a uma pela dona da aniversariante.



A terapeuta ocupacional Sara Dias Sampaio explica que os preparativos começam 30 dias antes


‘‘Nesses 30 dias, fazemos, eu e Vovó Lourdes, uma série de projetos para a festa’’, diz a terapeuta ocupacional Sara Dias Sampaio enquanto aponta para um quadro bordado por Lourdes em que Fifi é retratada. ‘‘A mãe hoje é outra pessoa. Tá passada a limpo’’, completa, feliz, a filha Virginia.



'Ela é a terapia da minha mãe'



Virginia Merlin com o esposo Iran Longhi. Ao invés de presentes, convidados levam ração para ser doada à Sociedade Protetora dos Animais


Na época em que vovó Lourdes ainda não estava de cadeira de rodas, ela passeava com a fisioterapeuta Mônica Lúcia Zanetti, que levava Fifi no bolso do jaleco. O começo foi difícil, pois ao chegar perto de Lourdes a pequena atacava. ''Tivemos de conquistar a cachorrinha para se aproximar de dona Lourdes. A presença da Fifi junto nas sessões estimula muito ela. Melhorou 1000%'', explica a fisioterapeuta.

A importância da bolinha preta e peluda nesta história é valorizada pela neurologista Teresinha Lissa, 50, médica de Lourdes, também presente na festa. ''Qualquer estímulo é importante. Ela transfere a parte emocional para o cachorro'', comenta. Em sua própria família, Teresinha tem um exemplo próximo. ''Quando via o cachorro, minha mãe voltava à realidade. Era o seu 'fio terra'.''

Bianca Valente, 24, filha da médica, lembra de um dos momentos que considera mais emocionantes. Diva, sua avó, estava com um estágio muito avançado do Mal de Alzheimer e não reconheceu nem a filha tampouco a neta. ''Quando apontamos para o nosso cachorro, ela disse: 'Esse eu sei quem é, é o Tequila'.''

''A Fifi é a terapia da minha mãe'', comenta Virginia, filha de Lourdes. ''Quando ela está confusa, adora ler o pedigree'', conta sobre o documento em que aparecem os antepassados de Josephine Merlin. Para Sara, terapeuta ocupacional, ''o envolvimento da família é motivador e muito importante. E por isso dá resultado''.

''Quando pego a agenda de telefones da mãe, parece obituário. Os amigos ou estão mortos ou deixados de lado em um depósito de gente. A minha mãe tem qualidade de vida'', conta Virginia, que mora com Lourdes, Fifi e com seu esposo Iran Longhi, que também adora a cachorrinha. ''Ele é o irmão mais velho dela'', brinca. (R.U.)


Gengibirra e gasosa de limão

A festa de Fifi também traz lembranças de uma época em que os cachorros Gibi, Peninha, Fuço-preto, Fraulein Bambi e Fraulein Hipelmouse passeavam pela residência.

''É um reviver de nossa infância'', comenta Virginia. Galileu, seu falecido pai, organizava as festas no dia das crianças, um aniversário para os animais e bonecas em que se reuniam os amigos.

O convite era feito em nome dos cachorros e tinha direito a um carimbo especial. ''Pegávamos a patinha do nosso cachorro, molhávamos no barro e marcávamos no papel'', recorda.

As festas eram regadas a docinhos em formatos de bichos e a dois engradados de refrigerantes Hugo Cini: gengibirra e gasosa de limão ou framboesa que Galileu ia buscar na fábrica na rua Visconde de Guarapuava. (R.U.)


Um chinês que não come cachorros

Em 2006, um chinês em passagem pela cidade foi até a festa de Fifi. Ficou encantado e fotografou cada detalhe. ‘‘No meu país comemos cachorros. Aqui vocês fazem festa’’, recorda Sara de uma fala do inusitado convidado.


Ele contou que não come cachorros. ‘‘Mas não deixamosa Fifi dando sopa não’’, brinca a dermatologista Ewalda Stahlke.

Na festa deste ano, um cartaz anunciava: ‘‘Chega de cachorro-quente’’. Virginia explica: ‘‘Ter hot dog em festa de cachorro seria mau gosto. Não combina.’’ (R.U.)


* Reportagem originalmente publicada no Caderno Curitiba do Jornal Folha de Londrina, do dia 23/10/2008.



Sobre o texto: Uma festa que me pegou de surpresa.


Ponto de partida: Entrevistava Igleide Araújo de Almeida, proprietária da Dogtour, agência de viagens para donos que gostam de cruzar o País com seus animais. A conversa foi para outra reportagem, que batizei de “Para animal algum botar defeito”, em que falo de serviços para os bichos na cidade – de cemitério especializado a hospital 24 horas. Igleide comentou de sua grife de alta costura para os caninos, a Flavinha Fashion, e contou que sabia de uma cachorrinha que tinha sua festa de aniversário todos os anos na cidade. Demonstrei interesse e ela me entregou um xerox com uma reportagem de uma revista sobre idosos que falava do acontecimento no ano passado. Disse também que os convidados levavam seus cachorrinhos ornamentados com vestimentas chiques. A surpresa foi descobrir que a festa acontecia em outubro quando já era outubro.


A reportagem: A expectativa, então, era encontrar uma festa dedicada a cachorros – cheguei a conversar com uma jovem especializada em fazer bolos e doces para festas de bichos. Entrei em contato com Virginia Merlin, a responsável pela organização do aniversário. Ela parecia bastante receosa, mas concordou que eu fosse cobrir a festa com a condição de não citar o endereço da residência na reportagem – pedido que ela repetiria mais duas vezes.


Cheguei à residência em dia de festa junto com o fotógrafo Diego Singh. Virginia nos recebeu na porta. Muito simpática, logo pediu que Sara, a terapeuta ocupacional citada na matéria, nos apresentasse a festa. Não havia outros cachorros – a única vez que eles foram convidados foi uma bagunça só, com direito a briga e tudo, como me contou Jussara Elias, sobrinha de Lourdes. Mais do que isso, a festa tinha um propósito muito claro e relacionado à terapia ocupacional: motivar vovó Lourdes.


Foi emocionante ver o afeto da família. A título de exemplo, no jardim, construíram estruturas de modo que, mesmo de cadeira de rodas, Lourdes consiga cuidar da horta. As borboletas de papel, feitas uma a uma em um pequeno cortador com forma (não consigo pensar no nome do objeto) estavam por todos os lugares externos e nos vários os cômodos da casa. Amigos trouxeram tudo o que encontraram com borboletas e esses objetos decoravam a casa. A família, inclusive, dormiria naquela noite com pijamas com estampas do inseto e deitaria em travesseiros recapados de fronhas com desenhos de borboletas.


Cheguei a pegar Fifi no colo, mas ela não sossegou. Ela tem os pelos sob a boca brancos graças ao cloro. Segundo contagem de Iran (o irmão mais velho), ela dá 80 lambidinhas a cada vez que toma água. Conversei com muitos amigos e familiares – Virginia, como Ewalda elogiou em certo momento, tem uma capacidade fascinante de sinergia para reunir as pessoas. O complicado de ter tantos depoimentos interessantes é que, no final da história, muitos ficam de fora. A especialista em odontologia veterinária e dona da clínica Odontocão, Maria Izabel Valduga, que não é citada na reportagem, me contou que acompanha os dentinhos de Fifi desde quando era um bebê. “Ela recebe ração, que é o adequado, mas tem muitos ‘agrados’”, confidenciou.


Fiquei na festa das 17 horas até pouco antes da meia-noite, quando, por fim, consegui escutar as histórias de Virginia – que não parava um minuto durante a festa. O bate-papo com Iran, seu esposo, também foi muito interessante e descobri que ele conhecia meu pai, Polan Urban, de quem lembrou com muita alegria. Iran, inclusive, já foi candidato a senador. Virginia achava que o esposo, que é administrador, não ia conseguir muitos votos – pois fez mais de 50 mil e ainda recebeu a ligação de uma fã que, depois de tê-lo visto na TV, desejava casar com ele. Já a conversa com vovó Lourdes foi bastante breve, mas fiz questão de colocar ao menos um pouquinho de sua fala na reportagem. Devido ao Parkinson, ela se comunica com bastante dificuldade, ainda que mantenha um discernimento muito grande sobre o que passa à sua volta.


Repercussão: “Linda, linda, a reportagem ficou linda.” A ligação que recebi de manhã de Virginia Merlin foi um enorme alívio. “Estamos nos revezando aqui na leitura. É impressionante como você é detalhista”, elogiou. Eu estava muito preocupado com o conteúdo da matéria, uma vez que tratava de assuntos muito pessoais e delicados. Virginia me tranqüilizou.


No dia anterior, quando terminava de escrever, pensei em ligar para ela e pedir para que ouvisse a versão final da reportagem. Como regra geral, não aceitamos pedidos de se ter acesso ao conteúdo antes da publicação, por uma razão muito clara de liberdade para se desenvolver o trabalho. A única vez que mostrei um trecho de uma reportagem antes de sua publicação foi quando pedi a Ana Pasinato Niculitcheff, filha de Valêncio Xavier, que me dissesse se estava delicado o modo como eu falava da doença de seu pai. Ela assentiu. Naquele momento, como já tratei em post anterior, todos os amigos do escritor recomendaram que eu não citasse a doença.


Neste caso, mais uma vez, penso que seria natural pedir o acompanhamento da família. Verdadeiramente, não o fiz, pois dois editores leram a reportagem na redação e me disseram que não havia por que se preocupar, uma vez que o texto era bastante respeitoso. Houve, também, uma questão crucial e freqüente no jornalismo: o horário do fechamento estava por chegar e o tempo se esvaía.


Para não perder de vez a temática desta parte do post, conto que a reportagem surpreendeu alguns colegas de redação, que dias antes pareciam espantados sobre a temática da festa, que, por fim, era muito distante de sua aparência inicial.


Erros, lapsos e confusões: Rodrigo Neppel, editor do Caderno Curitiba na redação de Londrina, decidiu dar um tom mais dramático à gravata (o subtítulo) adicionando o “Mal de Parkinson”, que não aparecia no meu texto original. Porém, se confundiu e escreveu “Mal da Parkinson”, o que já aparece corrigido neste blog. Neppel, por sinal, é um editor muito interessado e extremamente atencioso, além de um dos jornalistas mais respeitados na Folha de Londrina.


Os textos, inclusive, depois da edição, seguem bastante fiéis à versão que escrevo, salvo apontamentos que, em geral, tornam as matérias mais fluídas. Isso, porém, é regra no Curitiba, que é um caderno que permite um espaço de texto maior e que, salvo quando se escreve demais da conta, o que faço com relativa freqüência, não há necessidade de cortar parágrafos. Já nos cadernos diários, os textos sofrem mudanças mais bruscas e cortes grandes de tamanho. Posso dizer que já sofri isso na pele e não é das experiências mais agradáveis. Voltando ao Neppel, depois de ler a matéria, ele comentou. “Agora, até eu estou gostando da Fifi. Achava que era outra coisa a festa.”


Quanto às fotos, uma das legendas foi trocada. A idéia é que o texto ilustrasse uma imagem em que aparecia um cartaz na porta de entrada com os dizeres: “Consultório para quem sofre de cachorrite.” Reproduzo abaixo, a foto e a legenda como foram publicadas no jornal.



A decoração estava por toda casa. Na porta de entrada, uma brincadeira com os doentes por cachorro

domingo, 12 de outubro de 2008

Senhoras de programa

No Centro de Curitiba, não há limite de idade entre as profissionais do sexo

Rafael Urban
Equipe da Folha

Foto: Marcos Borges

Luciana (alcunha fictícia), 60 anos, passa as tardes no Passeio Público, onde acerta seus programas



O Passeio Público fica no centro de Curitiba e é o lugar em que Luciana passa suas tardes. Ela é uma mulher de programa. ''Nada disso. Sou velha de programa'', comenta. Com a diabetes descoberta há cinco meses, o médico, que desconhece sua profissão, sugeriu que ficasse mais tempo em um lugar com árvores. ''Mais uma boa razão para eu vir aqui todo dia.'' Sua aparência esconde as marcas do tempo e, diz, ninguém acredita quando conta a idade. Este repórter teve surpresa semelhante ao descobrir que ela fez 60 anos no dia 29 de julho.

Luciana começou a trabalhar como profissional do sexo aos 19 anos. Quatro Bicos e Stardust são boates chiques, e hoje extintas, nas quais trabalhou em Curitiba. Também passou por casas de luxo em Porto Alegre e Santos. ''E no meio disso tudo já namorei prefeito, deputado e até jornalista da televisão.'' Luciana é uma das poucas com mais de 60 a seguir na ''batalha'', expressão utilizada no meio nas ruas da Capital.

Seja no Passeio Público, na Santos Andrade, a praça em frente ao Teatro Guaíra, ou na Generoso Marques, ao lado do Marco Zero de Curitiba, as senhoras de programa estão por toda a região central da cidade. O preço por programa é quase tabelado, de R$ 20 a R$ 30, de acordo com acerto com o cliente, um valor distante dos cobrados nos bordéis de luxo, em que comumente ultrapassa R$ 150. ''Nossos clientes são operários, pedreiros. Não temos como cobrar mais'', comenta Luciana - a alcunha é fictícia, tal como a das outras personagens desta matéria, e foi sugerida por elas mesmas.

O preço dos hotéis utilizados nos encontros também parece seguir uma regra comum, que define o valor em R$ 10 a meia hora. Luciana lembra de um que custa menos (R$ 8), mas que é tão descuidado que não vale a economia. Nos dias de calor, ela veste mini-saia e blusa curta e, segundo suas palavras, chega a causar escândalo. ''Gosto dos clientes mais velhos, pois os jovens ainda estão cheios de fantasia e querem fazer coisas diferentes.'' No mês passado, ela atendeu a um rapaz de 18 anos.

Com as economias de uma vida, Luciana comprou carro e uma casa de dez cômodos em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba. E, pensando no futuro, paga INSS como cabeleireira, profissão que exerceu no passado, o que vai permitir se aposentar em breve. ''A idade vai chegando e vamos ficando menos vaidosas, a pele vai caindo. Não sou mais a bela mulher que fui. Todo mundo fala que é uma vida ruim, mas a minha não é de uma sofredora. Sou feliz'', sentencia.


Na Generoso
Dona Sônia, que diz ter feito ''65 anos faz tempo'', tem opinião diferente. Ela acerta seus programas na Praça Generoso Marques, a poucos metros do marco inicial da cidade, onde trabalha pelas manhãs. Já foi tirada da profissão seis vezes. ''Por seis homens diferentes, todos mais jovens que eu. Não gosto de velhos'', comenta.

Para Sônia, a pessoa mais idosa encontrada pela reportagem a continuar trabalhando na profissão, a sua passagem pelo inferno já aconteceu. ''É um lugar que só quem se vendeu na rua tem conhecimento. Essa vida é coisa do satanás.''

Na praça em que ela trabalha, os pontos são vários. Há o cantinho das coroas ao lado da floricultura, e senhoras sob as marquises. ''Tem que saber entrar e saber sair. Quando estou em casa sou outra; viro dona de casa e mãe'', comenta Neusa, 44. Enquanto ela estiver tratando seu rim, não pára. Em paralelo ao seu trabalho na rua, por diversas vezes exerceu o ofício de doméstica. ''Quando o meu último patrão me viu aqui, me despediu na hora.''

Neusa já parou de contar quantas vezes distintas senhoras lhe cuspiram na cara, as mesmas que não lhe oferecem emprego. ''Dizer que é prostituta é o mesmo que falar que você rouba as pessoas. Nunca obriguei um homem a fazer sexo comigo.'' No final do dia, volta para o lar, onde responde como mãe e dona de casa.


Entre prédios históricos

‘‘Venha nos entrevistar daqui a alguns anos. Estaremos aqui’’, comenta uma moça de 36 anos na Rua 13 de Maio, região central de Curitiba. Sua dica é buscar pelas senhoras na Praça Santos Andrade, situada entre o Teatro Guaíra e o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná. Em um banco da praça, conversam, como velhas amigas, Linda, 49, e Márcia, 45. ‘‘Somos umas dez trabalhando na praça’’, explica Linda, que repete a mesma rotina diariamente há 20 anos: das 10 às 17 horas espera por seus clientes em um banco com vista para o prédio histórico. ‘‘Fui chegando, fiquei aqui e daqui não saio mais. Os conhecidos vêm nos procurar. Além disso, é uma praça gostosa.’’

Já Márcia não tem tanto carinho pelo lugar. ‘‘Quem é que vai gostar desta vida lazarenta? Tentei até ser doméstica, mas não deu certo. Peço a Deus: um dia eu saio.’’ Aos 25, depois de se separar do primeiro marido, Márcia começou a vender bilhetes de loteria. Conheceu as meninas que ofereciam serviços sexuais e acabou se enturmando. Hoje, prefere trabalhar durante o dia, por uma questão de segurança. ‘‘À noite, todos os gatos são pardos’’, diz.

O marido de Linda a conheceu na rua, há 17 anos, e não gosta de sua profissão. ‘‘Mas ele procura esquecer o que vou fazer e eu saio de casa como se estivesse indo dar uma volta.’’ Com a chegada da idade, as coisas mudaram. ‘‘Antes fazia de dez a 20 programas por dia. Hoje um ou dois no máximo e fico exausta por levar chá de espera no banco.’’ Linda cobra no mínimo R$ 20 por programa e, em casos raros, chegou a receber R$ 50. ‘‘Você acha que só menina nova faz essas coisas?’’

‘‘Enquanto eu puder com as pernas, eu não derrubo o barraco não’’, comenta Marlene, 49, colega de praça de Linda e Márcia. Ficar em casa seria para ela o mesmo que virar uma ‘‘velha coroca’’. Marlene também vê mudanças. Do passado, se recorda da época em que ganhou entre R$ 100 e R$ 150 por dia. ‘‘Estão preferindo as mais novas. As velhas estão ficando para tia’’, diz. Por fim, propõe um abaixo assinado para a reabertura do Hotel Rota Nova, fechado pela prefeitura. (R.U.)


Fórmula da juventude

Victoria Secret se orgulhava de ter todos os homens aos seus pés. E gostava disso. Viajando com um grupo de cinco meninas auto-intituladas ‘‘As panteras’’, conheceu o País fazendo shows de strip-tease. Já ganhou muito dinheiro na noite e torrou outro tanto, especialmente com roupas e acessórios de marca que lhe valeram o apelido no meio e que a identifica nesta matéria. ‘‘Quando estava no meu auge, aos 25 anos, em dois meses e meio ganhei R$ 25 mil e comprei um Golf.’’ O ápice passou, são menos homens aos seus pés e os ganhos já não são tantos, mas, em sua opinião, continuam bons.

Victoria trabalha em uma das casas de luxo da cidade e é uma das poucas que ultrapassou a barreira dos 30 anos e continuam ali. ‘‘As casas barram as mais velhas’’, explica Bia Gil, colega de boate, que diz ter 26 anos, enquanto, na verdade, tem 32. ‘‘Todas as mulheres da noite contam que têm dez anos a menos do que sua idade verdadeira.’’ No caso de Victoria, ela diz aos clientes que tem 30, ao passo que a sua identidade aponta 36.

‘‘Está vendo tudo isto aqui?’’, ela questiona enquanto olha para o ambiente da boate em que belas jovens realizam coreografias como se estivessem em uma danceteria. ‘‘É tudo uma ilusão.’’ Victoria Secret recorda que demorou para se dar conta disso. Desde o início do ano, faz um curso profissionalizante, que espera possa a ajudar a se aposentar. Quanto ao futuro, estará na noite ao chegar aos 40? ‘‘Somente se eu descobrir a fórmula da juventude. Se eu fosse eternamente jovem, seria eternamente puta.’’ (R.U.)


‘Batalhando na melhor idade’

Diego Singh

Carmen Costa (ao centro) e a equipe do Grupo Liberdade, que defende os direitos das mulheres de programa

Carmen Costa, 50 anos, diz logo de pronto, sem hesitar. ‘‘Eu sou prostituta.’’ É a palavra que ela prefere para descrever o ofício o qual exerceu durante 27 anos. Desde 1994, porém, já não tem tanto tempo para trabalhar nas ruas. No dia 18 de maio daquele ano fundou o Grupo Liberdade, que defende os direitos das mulheres de programa. ‘‘Pensei em muitas coisas: na epidemia da Aids, na falta de um lugar de apoio e orientação.’’ Em relação à ausência de alguém para recorrer, ela havia sentido isso na pele pouco antes, em 1992, quando estava grávida pela segunda vez – o que foi sua motivação maior para abrir a ONG.

O grupo conta com uma equipe de seis pessoas, entre elas uma educadora e uma assistente social. Depois de ‘‘Boca de gamela’’ e ‘‘Meninas na prevenção’’, a ONG está iniciando o projeto ‘‘Batalhando na melhor idade’’, que visa trabalhar a auto-estima das mulheres de programa com mais de 40 anos. Segundo levantamento da ONG em 2005, das 30 mil mulheres que trabalham com prostituição em Curitiba, 45% delas têm mais de 40 anos. ‘‘Elas começam a se sentir um ‘trapo velho’, a se descuidar. Em muitos casos, deixam de se preocupar com a Aids, achando que, se não pegaram até agora, não vão pegar mais’’, diz. ‘‘Hoje, uma senhora faz um; quando muito, dois programas por dia. Elas não têm outra opção (de trabalho) e começam a se sentir como coitadinhas. Além disso, o número de clientes diminuiu e o número de prostitutas nas ruas aumentou.’’ (R.U.)


Na literatura de Dalton

‘‘Ele subiu na cama para não arrastar a calça no pó. A mulher dobrou uma perna, depois outra, safando-se da saia preta de couro – a coxa com nervura azul de varizes. Sentou-se para enrolar as meias. Deixou cair o sutiã. Foi deslumbrar-se no espelho, o seio na mão. Buscou ali o olhar de Nelsinho – depressa ele o desviou. A criatura deu volta à cama. Enroscou-se nele, as unhas pelo corpo, estremecendo-o todo. Enfiou-lhe a língua na orelha – Que se faça tua vontade, Senhor, e não a minha.’’

Trecho de ‘‘A noite da paixão’’, do livro ‘‘O Vampiro de Curitiba’’, de Dalton Trevisan


A REPORTAGEM

‘‘Você trabalha aqui?’’, repeti a pergunta a 12 mulheres abordadas nas ruas do Centro de Curitiba para a reportagem. Uma delas respondeu: ‘‘Não, estou esperando o meu marido.’’ A maioria se dispôs a contar as suas histórias ao saber que eu gostaria de fazer uma matéria com as mulheres com mais idade que seguiam na batalha.

O ponto de partida para a reportagem não poderia ter sido mais inusitado. Em uma madrugada de julho, estava fazendo uma reportagem no Terminal de Ônibus do Guadalupe, na região central da cidade. Lá, uma senhora que aparentava ter 75 anos – e que mais tarde descobri ter 62 – agendava os seus programas. Isso me motivou a fazer uma reportagem sobre o universo dessas senhoras, uma questão presente desde tempos remotos na cidade e já trabalhada na literatura, como vemos na reprodução de trecho do texto de Dalton Trevisan nesta página, e no cinema – o projeto Olho Vivo, de Curitiba, fez documentário intitulado ‘‘Programa de Senhoras’’, em 2006.

Depois de conhecer várias das histórias, fiquei sabendo que uma ONG, o Grupo Liberdade, tratava dos direitos das prostitutas – aqui uso o termo sugerido pela presidente do grupo. A descoberta mais interessante, em relação à ONG, foi saber que parte do trabalho mais recente deles, que envolve distribuição de camisinhas e orientação em 175 casas da cidade que visitam com freqüência, estava diretamente relacionado ao universo das mulheres de programa com mais de 40 anos. Aqui, a título de curiosidade, cito mais um número apontado por pesquisa da ONG. Em 2005, entre esquinas, casas, salas e saunas, havia 3.178 pontos de prostituição em Curitiba. (R.U.)


* Reportagem originalmente publicada no Caderno Especial de Domingo do Jornal Folha de Londrina, do dia 12/10/2008.



Sobre o texto: A minha maior aventura jornalística até o momento


Ponto de partida: Como eu conto no texto acima e publicado junto à reportagem, estava à noite no Terminal do Guadalupe fazendo uma reportagem acompanhando o serviço do Resgate Social da FAS quando me apontaram uma senhora que estava sentada em uma cadeira no terminal à espera de seus clientes.


A reportagem: Não há outro modo de conhecer estas senhoras e suas histórias a não ser indo até elas nas ruas da cidade. É impressionante notar que estão por todo o Centro, trabalhando a luz do dia e em número expressivo. Estão lá desde tempos imemoriais, mas são pessoas tão humanas, comuns, que passam despercebidas; na correria do dia-a-dia passamos por elas tantas vezes, mas mal notamos que estão lá. Curioso notar que, depois, fica fácil perceber que, sim, estão lá.


As estatísticas do Grupo Liberdade impressionam: 45% das prostitutas de Curitiba (penso que aqui não cabem eufemismos) têm mais de 40 anos. O que fazer quando a idade chega? As perguntas são em número muito maior do que as respostas. Essas senhoras são, necessariamente, pessoas com muita história de vida e, na maioria absoluta dos casos, dispostas a contá-las.


Algumas colegas indicaram Dona Sônia, que trabalha na Generoso, como a mais velha em atividade na cidade. Deixei com uma colega de praça meu telefone, e Sônia me ligou no dia seguinte. Conversamos por uns 15 minutos em que ela me contou sobre sua vida. Fiquei de retornar para marcarmos um encontro pessoalmente. Como viajei no dia seguinte, isso só aconteceu duas semanas depois. Quando a encontrei, ela, sob lágrimas, disse. “Já te contei tudo que tinha para te dizer, dói lembrar dessas coisas, não quero mais falar, por favor, vá embora. Só reforço uma coisa, isso aqui é o inferno mesmo.”


Tive bastante tempo para apurar a reportagem. Pude visitar uma casa noturna de luxo, em que entrei com a autorização da gerência da casa com a condição de não publicar o nome do local. Este outro lado da moeda me pareceu importante para discutir um outro momento, outro patamar do ciclo da prostituição, onde entra muito dinheiro e as meninas são muito bem pagas – e onde, por certo, a idade não é bem-vinda.


Ainda que a prostituição na idade mais avançada seja um tema presente em várias instâncias – como literaturae onde, por certo, a idade n e as meninas se para discutir um outro momento, patamar do ciclo da prostituiços que est e cinema – ela parece distante das discussões sociais. Quando falava sobre a pesquisa para a reportagem, as pessoas, amigos e colegas, se mostravam surpresas: “Sério, existe?” Me surpreendeu que o tema também não fosse comumente discutido na mídia.


Conversei com o Luciano Coelho do Olho Vivo sobre a produção do “Programa de Senhoras”, documentário em que entrevistam uma série de mulheres prostitutas na casa dos 40. Depois, por fim, fui às ruas. No Passeio Público estava sentada em um banco Luciana. Simpática, se dispôs a conversar comigo e tive ali, logo de começo, um dos depoimentos mais importantes – boa parte deles foi colhida em uma mesma tarde. Retornaria depois, com o fotógrafo, para fazer uma seqüência de fotos, acertada previamente pelo telefone. Enquanto Luciana, a personagem que aparece no começo da matéria, topou fazer as fotos, com a condição de que seu rosto não aparecesse, algumas outras não.


A única negativa em dar depoimento veio na Visconde de Guarapuava. Lá, há um prostíbulo que reúne apenas senhoras. Uma delas afirmou que, por ordem do dono, não poderia conversar comigo. Sugeriu que tentasse na quadra seguinte. “Há muitas por aí.” O encontro com Carmen, do Liberdade, foi, também, muito importante. Saber que há uma organização buscando defender os direitos das mulheres de programa foi bastante interessante. E ver uma mulher com pulso firme em sua administração foi uma surpresa positiva.


Repercussão: Esta foi bastante peculiar e veio com o passar do tempo e reportagem. Mesmo antes de ser publicada (o que, como conto a seguir, levou muito tempo), os colegas de redação e amigos que sabiam da reportagem já perguntavam bastante sobre ela. O resultado foi uma recepção muito positiva e o texto foi um dos mais elogiados entre todos os que já escrevi.


Erros, lapsos e confusões: O mais peculiar desta foi que mais que o tempo de reportagem – da idéia inicial à escrita foram cerca de dois meses – foi o tempo que levou para ser publicada. Depois de pronta, ela levou quase outros dois meses para ser publicada. Como ficou grande e precisava de muito espaço no Caderno Especial (de Reportagens) de Domingo, para onde foi originalmente pensada, isso nunca acontecia e ela tinha de esperar mais uma vez por mais uma semana para ser publicada – o que aconteceu semana após semana durante todo esse tempo.


Por fim, chegou o momento da publicação. A diagramação foi uma lástima – o anúncio que atravessa as duas páginas acaba com qualquer possibilidade gráfica. Ainda assim, fiquei feliz que o conteúdo original de texto foi preservado – o que foi uma das minhas batalhas, pois não concordei com a idéia de a reportagem ser reduzida para ficar de acordo com espaços mais freqüentemente disponíveis no jornal. Por vezes, esta é uma questão à qual temos de ceder no jornalismo, mas por esta reportagem, em especial, valia à pena batalhar por espaço.


As fotos, também, acabaram prejudicadas. E a mais importante delas, de Luciana, a senhora de 60 anos que trabalha no Passeio Público, acabou reduzida na primeira das duas páginas e posicionada distante do texto de abertura, em mais um erro de diagramação. Ao contrário, a foto do Liberdade ficou junto ao lead e título, criando uma confusão – na disposição dos elementos da versão impressa, parece que Carmen e as meninas que trabalham no Grupo Liberdade são as senhoras de programa do título. Segundo alguns colegas, a disposição gráfica do texto matou a matéria. Fico feliz que ela tenha sobrevivido a tantas dificuldades.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Maricleide e o dia triste




Refresco, olha o refresco! Mais um conto publicado na sessão Histórias do Caderno Curitiba e escrito entre uma reportagem e outra. As fotos mais uma vez são de Nicole Lima, fotógrafa e autora do blog niwonderland.blogspot.com

Rafael Urban
Equipe da Folha*

O que mais me espantou no comentário de Maricleide - "hoje é o dia mais triste de minha vida" – não foi o fato de ela tê-lo proferido no dia do meu casamento, mas a importante consideração de que sua mãe havia falecido uma semana antes. Refletindo, logo me dei conta de que ela faria um escândalo no altar – eu já deixara claro que minha decisão não tinha volta, que eu amava Ana.

Não tive dúvidas, pedi para o Igor, meu irmão, grudar nela. Atendendo minha solicitação, assim que Maricleide, tal como podia se esperar, de preto, entrou na igreja, lá estava Igor, com a desculpa de bater um papo, conversando e logo se sentando ao seu lado. Como se o feitiço tivesse virado contra o feiticeiro, ela aproveitou-se do fato que estava com alguém da família do noivo e ficou a três fileiras do altar em que já estávamos eu, o padre e de onde, logo, estaria também Ana, minha noiva.

A bolsa de Maricleide, vermelha, parecia grande o suficiente para carregar uma arma do tamanho de um 38. Ela sorria e a cada movimento sutil de seus lábios eu ficava mais certo que veria sangue sobre a grinalda, em um vermelho escuro como o da bolsa da assassina. Inclusive, sonhei com isso antes mesmo de receber a mensagem de texto, via celular, em que Maricleide explicava o quão triste era o dia de hoje para a sua pessoa.

Aqui cabe um parênteses importante. Maricleide foi minha namorada quando dos meus 17 anos. Minha idade, hoje, não importa, mas é suficiente dizer que a adolescência já passou faz muito tempo. Ela, porém, sempre fez questão de deixar claro que o tempo, para ela, nunca passou. A cada encontro fortuito, consegue demonstrar que vive como se tivéssemos 17 anos para sempre.

Igor conversando com ela me deixa mais tranqüilo. Meu irmão seria, sem dúvidas, rápido o suficiente para interromper qualquer possível loucura dessa desmiolada. A marcha nupcial começa, Ana entra. Está linda. Enquanto os olhos da platéia seguem a noiva, os meus se encarregam de vigiar Maricleide, que conversa com Igor como se Ana, linda, ou mesmo eu, não estivéssemos lá.

Eu dou as costas para Maricleide, Igor e todos os familiares. Não esqueço o temor, que segue comigo. Respondo ao padre, beijo Ana. E desejo ter filhos com essa mulher – dias depois, descobriria que ela já estava grávida. Não ouço tiros. O casamento acaba. Comemoramos em uma churrascaria.

Sugiro para Igor que deixe Maricleide em paz. Ele diz que não. Decidiram, antes do padre casar a mim e Ana, que são almas gêmeas o suficiente para ficarem juntos. E, naquela mesma noite, Igor e Maricleide, os dois tirando proveito da ocasião, anunciaram que se casam em novembro.

* Conto originalmente publicado no Caderno Curitiba do Jornal Folha de Londrina, do dia 01/10/2008.