Ficção
Entre uma reportagem e outra, tem espaço para arriscar na literatura. Segue o meu primeiro conto publicado na sessão “Ligeiras”, do Caderno Curitiba
Equipe da Folha*
Não que você tenha sido a primeira mulher que eu olhei nos olhos e disse. ''Você está especialmente bonita.'' Mas não fazia parte do meu dia-a-dia ter essa vontade compulsiva de repetir à exaustão o quanto a beleza de alguém me impressiona. Ainda mais se eu pensar que antes eu não via isso
O telefone tocou e era uma ex-namorada em busca de um remember em uma data especial. A campainha que já estava dando nos nervos repetiu-se pouco depois. Uma amiga preocupada com meu estado nos últimos dias. Sabia do interesse dela. Mas não, não era recíproco. Nem da colega de escola que teria me visto no show do lugar vazio ao meu lado e que parecia pedir para que eu a reconhecesse. Ou das tantas outras sem-namorado que pareciam volúpia ardente
Não que você tenha sido a primeira mulher que eu olhei nos olhos e disse: ''Eu te amo''. Até porque eu nunca vocalizei isso. Dessa você não pode se gabar. Mas é certo que nunca me senti tão feliz ao saber que amar era tão bom. Sereno, tranqüilo e ao mesmo tempo forte e ardente. Da colega de trabalho que queria hora extra, eu não lembro nem o nome. Mas do teu, Branca, eu lembro cada dia desde que você se foi. Sinto, mas faltei ao funeral.
Reconhecer o teu corpo foi a minha máxima atitude daquela tarde, que lembro como se fosse ontem, pois foi ontem. No enterro, recordaria da tua claustrofobia e iria querer te arrancar do caixão. Você compreenderia isso numa boa eu sei. Como sabe que nem todos levariam isso numa ótima assim. O pior de tudo seria vestir o preto que você tanto gosta e não poder te ver sorrir de novo por me ver na tua cor favorita.
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