Mais um refresco. Publicado na sessão “Histórias”, do Caderno Curitiba, o novo nome de batismo da “Ligeiras”.
Rafael Urban
Equipe da Folha
Mas bá, diz a gaúcha, nem em sonho acaba o meu fôlego. Ela começa a cantar: ''Perguntaram para mim, se eu ainda gosto... ah se gosto! Fico amando e amando, sem sentir saudade!''. Mirandolina diz que faz amor ''de diversos tipos'', todos os dias da semana. ''É sábado, domingo, segunda, terça e por aí vai.'' Os netos se envergonham; o marido reforça - Não há o que pare essa mulher, diz. Que bom que o teu não parou, retruca Mirandolina. O vigor é de impressionar.
A título de exemplo, ela levanta os dois braços e aos poucos arca a coluna enquanto desce até a ponta dos pés e encosta neles os dedos das mãos. Num sobressalto, volta à posição original para iniciar uma sequência de polichinelos. Ela pára quando, mentalmente, a minha contagem chega em 100.
Aos 20 eu era sedentária, conta. Hoje, continua, sou sexo à flor da pele. O marido ri, contrariado - Não gosto de intimidades, assim, escancaradas, explica. Ela, sim, gosta e, depois de descobrir a Internet, criou um blog em que descreve suas aventuras sexuais e promete, para breve, colocar um vídeo dos dois em ação no Youtube. Explico para ela que o site não permite esse tipo de conteúdo. Mas é didático. E didático eu sei que pode, afirma. É para ser como um livro de auto-ajuda - enquanto faz o comentário, Mirandolina aponta para um volume intitulado ''Sexo na terceira idade: integridade possível''.
Acredito, segue ela, que muitos podem me ter de exemplo. A mulher não morre com a queda dos seios, mas segue vivinha da Silva; pode estar certo. Vou fazer sexo até os 100, daí hiberno e vou-me embora. Exemplo dona Mirandolina dá aos vizinhos. E quando dou, diz manhosa, grito bem alto. Vai ver motiva os jovens que moram aqui do lado a apimentar um pouco. Pobrezinhos fazem tão de vez em quando e, do que sempre vejo da janela da cozinha, sem emoção alguma. Que me escutem e aumentem um pouco o volume de suas paixões.
* Conto originalmente publicado na sessão Histórias do Caderno Curitiba do Jornal Folha de Londrina, do dia 03/09/2008.
Rafael Urban
Equipe da Folha
Mas bá, diz a gaúcha, nem em sonho acaba o meu fôlego. Ela começa a cantar: ''Perguntaram para mim, se eu ainda gosto... ah se gosto! Fico amando e amando, sem sentir saudade!''. Mirandolina diz que faz amor ''de diversos tipos'', todos os dias da semana. ''É sábado, domingo, segunda, terça e por aí vai.'' Os netos se envergonham; o marido reforça - Não há o que pare essa mulher, diz. Que bom que o teu não parou, retruca Mirandolina. O vigor é de impressionar.
A título de exemplo, ela levanta os dois braços e aos poucos arca a coluna enquanto desce até a ponta dos pés e encosta neles os dedos das mãos. Num sobressalto, volta à posição original para iniciar uma sequência de polichinelos. Ela pára quando, mentalmente, a minha contagem chega em 100.
Aos 20 eu era sedentária, conta. Hoje, continua, sou sexo à flor da pele. O marido ri, contrariado - Não gosto de intimidades, assim, escancaradas, explica. Ela, sim, gosta e, depois de descobrir a Internet, criou um blog em que descreve suas aventuras sexuais e promete, para breve, colocar um vídeo dos dois em ação no Youtube. Explico para ela que o site não permite esse tipo de conteúdo. Mas é didático. E didático eu sei que pode, afirma. É para ser como um livro de auto-ajuda - enquanto faz o comentário, Mirandolina aponta para um volume intitulado ''Sexo na terceira idade: integridade possível''.
Acredito, segue ela, que muitos podem me ter de exemplo. A mulher não morre com a queda dos seios, mas segue vivinha da Silva; pode estar certo. Vou fazer sexo até os 100, daí hiberno e vou-me embora. Exemplo dona Mirandolina dá aos vizinhos. E quando dou, diz manhosa, grito bem alto. Vai ver motiva os jovens que moram aqui do lado a apimentar um pouco. Pobrezinhos fazem tão de vez em quando e, do que sempre vejo da janela da cozinha, sem emoção alguma. Que me escutem e aumentem um pouco o volume de suas paixões.
* Conto originalmente publicado na sessão Histórias do Caderno Curitiba do Jornal Folha de Londrina, do dia 03/09/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário