sábado, 24 de março de 2007

É tudo uma grande farsa


Felipe Hirsch fala de Thom Pain – Lady Grey e de nova montagem sobre Dalton Trevisan

Hoje à noite [23/03/07], no Teatro da Reitoria, acontece a última apresentação de Thom Pain - Lady Grey na Mostra Oficial do Festival de Teatro. São dois monólogos, que, juntos, têm mais de duas horas de duração. “É um espetáculo muito difícil e árido para o público. Será uma decepção imensa para quem comprou o ingresso achando que vai se divertir”. A sugestão é do próprio diretor da Sutil Cia. de Teatro, Felipe Hirsch. A peça é baseada em dois textos do dramaturgo norte-americano Will Eno, considerado por Edward Albee (autor de Quem tem medo de Virginia Woolf) o artista mais interessante em atividade. Em 2002, Hirsch foi a Londres e conheceu Eno. Nasceu uma amizade e uma primeira parceria: a peça Temporada da Gripe, que passou pela mostra principal do Festival de Teatro de 2004. Eno veio ao Brasil para assistir à montagem e gostou bastante. Ele passava por um momento conturbado: estava se separando da esposa. Voltou aos EUA e escreveu os monólogos, agora adaptados pela Sutil, companhia que começou em 1993 em Curitiba.

“É um texto muito racional, mas que gera muita emoção. São dois atos: o primeiro, a voz do homem; o segundo, a da mulher [Lady Grey, em referência à ex-esposa, inglesa]. Um texto onde aquelas pessoas tentam traduzir com palavras a sensação emocional daquela fase da vida delas”, comenta o diretor. Quem espera pelas extensas referências à cultura pop de A vida é cheia de som e fúria, outra peça da companhia, pode sair desapontado. A maior coincidência entre as duas peças é a presença do ótimo Guilherme Weber como protagonista. Nos setenta minutos de texto interpretados por ele, o espectador é apresentado a uma reflexão que parte da infância de Thom Pain. Nos cinqüenta minutos de Lady Grey, Fernanda Farah traz uma personagem buscando preencher os vazios de um recente abandono. O público tem gostado? O diretor responde. “Tem, mas não conseguem dizer o porquê. É tudo pelo social: é importante dizer que viu e gostou de um espetáculo da Sutil. É tudo uma grande farsa”, afirma.


Um Dalton pouco sutil
A última peça produzida na cidade pela Sutil Cia. de Teatro foi em 2000. Desde então, o grupo formado por artistas renomados como o ator Guilherme Weber e a cenógrafa Daniela Thomas - também parceira costumeira de Walter Salles - tem produzido seus espetáculos em São Paulo. O retorno da produção a Curitiba vem com a produção do espetáculo Educação Sentimental do Vampiro. “Insistimos em ensaiar em Curitiba, porque conseguimos ficar mais isolados”, fala Felipe Hirsch, em entrevista realizada em uma das três salas dedicadas ao ensaio. A trupe, que se prepara para a estréia da peça baseada em textos de Dalton Trevisan, no dia 9 de abril, em São Paulo, tem seu refúgio num hotel no Centro Cívico. Três espaços para conferências foram adaptados para a companhia.

A cada produção, a equipe envolve diretamente sessenta pessoas. No elenco, desta vez, são três atores curitibanos e quatro de outros estados. Para Felipe Hirsch, é um espetáculo que causa angústia, “mas se você me perguntar por que eu quero causar angústia nas pessoas, eu não sei”. Hirsch ainda fala das dificuldades de adaptar um escritor tão próximo: “Quando você faz um Tchecov, você imagina uma Rússia; quando você faz um Dalton, você sabe quem são essas pessoas. É muito mais difícil lidar com essas pessoas sabendo quem elas são, do que imaginar um russo e um inverno na Rússia”. Além disso, o diretor sente estar passando por uma situação nova: “É constrangedor estar diante de uma coisa que é tão domínio público. Pela primeira vez, tenho a sensação de exposição total”. Em São Paulo, a peça ficará em cartaz por sete meses. Quem sabe, em 2008, teremos a oportunidade de ver a peça sobre Dalton em Curitiba.

FOTOS:

1ª - O diretor da Sutil Cia. de Teatro, Felipe Hirsch (Rafael Urban)

2ª - Guilherme Weber, o Thom Pain (Divulgação)

3ª - Fernanda Farah, a Lady Grey (Divulgação - Carol Sachs)


* Matéria originalmente publicada no Jornal do Estado do dia 23/03/2007.

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