quarta-feira, 2 de julho de 2008

Leon e o Leão de Ouro

Cinema

Rafael Urban
Equipe da Folha*


Divulgação/Videofilmes

Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri em atuações memoráveis

Depois de centenas de exibições, uma cópia em película já está para lá de riscada. E, com o tempo, o processo de deterioração é quase inevitável. Em esforço recente e com o patrocínio da Petrobras, foi lançada uma caixa com parte da obra do cineasta carioca Leon Hirszman restaurada digitalmente.

Ou seja, cada fotograma das cópias originais foi escaneado para ser corrigido no computador, assim como o som.

O mais famoso do conjunto disponível nas locadoras é Eles Não Usam Black-Tie, de 1981. E é por causa dele o Leão de Ouro do título, prêmio que o filme ganhou no Festival de Veneza daquele ano. A história começa em 1979, quinze anos depois do início da Ditadura Militar. O período, ainda que já representasse o começo da abertura política, era de disputas complexas.

No meio disso tudo, o operário Tião (o galã Carlos Alberto Riccelli) descobre que sua namorada Maria (Bete Mendes) está grávida. Otávio, seu pai - interpretado por Gianfrancesco Guarnieri, que escreveu o texto originalmente para o teatro -, trabalha na mesma fábrica e está envolvido no movimento grevista. O elenco, magistral e bem dirigido, ainda conta com uma já madura Fernanda Montenegro no papel de Romana, mãe de Tião.

O longa-metragem possui uma dramaturgia, um jogo de cena próximo do teatro e tem um uso de câmera muito inteligente. Com freqüência, o diretor foge do plano e contraplano corriqueiro nas novelas. Aqui a câmera fica fixa na maior parte do tempo e quando se move o faz para revelar o espaço.

O filme é político e carregado de idéias que marcaram a época. Nem por isso seus personagens perdem a complexidade e fica difícil saber se estamos torcendo para o mocinho ou bandido.

Na caixa distribuída pela Videofilmes, há dois Dvds e um livreto. Em uma das matérias reproduzidas, o cineasta Hirszman afirma que naquela época o cinema brasileiro era ''meio artesanal''. A série de bons filmes e novos nomes surgidos nos últimos anos reflete um universo diferente. Ainda que longas-metragens como ''Eles Não Usam Black-Tie'' nos mostrem que o nosso cinema sempre produziu bons trabalhos.

SERVIÇO
- Caixa Leon Hirszman 01-02
Quanto - R$ 69
Mais informações - www.vfilmes.com.br


* Coluna originalmente publicada no Caderno Folha 2 do Jornal Folha de Londrina, do dia 02/07/2008.

P.S. – a partir de hoje, passo a escrever, sempre às quartas-feiras, sobre o cinema brasileiro, seja aquele que está nas locadoras ou nas salas de cinema. A coluna, que recebe o nome de "Nas telas", é publicada na sessão "Mundo Jovem" do caderno.

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