quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Repórter do Brasil


Imagens
O jornalista bateu um papo na quinta-feira da semana passada com os curitibanos.
O cineasta paranaense Eloi Pires Ferreira: fã assumido de José Hamilton Ribeiro.
José Hamilton Ribeiro, o mais premiado jornalista do País: 72 anos de idade e 52 de profissão*

“Eu sonhava em ser jornalista de guerra”. Logo que saiu da faculdade, o jornalista e cineasta Eloi Pires Ferreira desistiu do sonho: “Era coisa de moleque. Perigoso demais”. Passou a trabalhar com jornalismo agrícola, num programa aos moldes do Globo Rural. Admirava o repórter José Hamilton Ribeiro, principal nome do matutino dominical da Globo. Anos depois, descobriu que Ribeiro tinha sido repórter de guerra: mais um motivo para a admiração. Na semana passada [24/05/07], Eloi foi acompanhar o bate-papo com o ídolo nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação.

Depois de quarenta minutos de espera, Ribeiro chegou. Sorridente, seu rosto não esconde as marcas da passagem do tempo: 72 anos de idade, 52 de jornalismo. Este deixou as mais profundas. Na sua grande reportagem, ou na sua maior, pois as grandes foram tantas, e sete delas receberam a maior honraria do jornalismo nacional, o Prêmio Esso, esteve no Vietnã, em março de 1968.

Durante a Guerra, e ao lado do fotógrafo Henry, correu em direção a explosão de uma mina para acompanhar os feridos. Poucos minutos depois, fragmentos de outra explosão acertariam a perna direita de Ribeiro. Na revista Realidade, sob o título “Nosso repórter viu a guerra de perto”, escreveu: “Ouço uma explosão fantástica. É um tuimmm interminável que atravessa os ouvidos de um para o outro lado, dá-me a sensação de grandiosidade. Sinto-me no ar, voando, mas, ainda assim, com uma certa tranqüilidade para pensar:
- A guerra é de fato emocionante. Agora entendo como há gente que possa gostar da guerra.” Quatro cirurgias depois, Ribeiro conseguiu retornar ao Brasil.

Desde então, uma perna mecânica o acompanha, o que o levou a responder a pergunta mais estúpida já feita a ele: “Se era difícil ser repórter com uma perna só”. A resposta, da qual se orgulha, sempre faz questão de contar: “É mais difícil do que com duas, mas é mais fácil que com quatro”. Contou a experiência mais uma vez em Curitiba. A jornalista Juliana Vines lembra já ter ouvido a história, também reproduzida em dois momentos no livro “O repórter do Século”, seleção de oito reportagens de Ribeiro. “Ele contou as mesmas experiências em uma palestra que vi no interior do estado. As mesmas e divertidas histórias”. São grandes histórias para jornalistas, alunos e público em geral. Mas seus ensinamentos também são técnicos. A maneira como transforma dados em texto fluído é uma aula àqueles que tem que escrever sobre números. “Quando nasce, o brasileiro só pode esperar viver pouco mais de 50 anos. Se for nordestino, a coisa muda, para pior: quase não chega aos 40. A idade média do brasileiro é de 54 anos – a mesma da Suécia, no século XIX. Só 4,3% da população alcançam os 60 anos”, escreveu em 1968 na reportagem “Do que morre o Brasil”.

José Hamilton Ribeiro chegou há 27 anos no Globo Rural. Seria uma experiência curta, que, a princípio relutou em aceitar. Seria apenas por alguns meses, enquanto o Globo Repórter, programa onde trabalhava, não voltasse ao ar. Apaixonou-se pelo campo e está no Globo Rural desde então. A reportagem do Vietnã é lembrada pelos colegas de profissão como o seu maior trabalho. Aos 72 anos, Ribeiro tem uma opinião diferente: “A melhor reportagem? Com certeza será a próxima, de tantas que ainda farei. Sempre espero que a próxima saia melhor”, responde o senhor gentil que é a encarnação do jornalismo por excelência.

FOTOS: Rafael Urban

* Matéria originalmente publicada no site Overmundo.

2 comentários:

Marcelo Cavalheiro disse...

Forte sotaque nortista nesta matéria, heim Urban?! Mais especificamente piauíense.... Pabarabéns pela matéria.

ps: Ainda implico com os titulos. Tu pode melhores.

Grande Abraço

Marcelo Cavalheiro disse...

hahaha, esqueci de assinar,
mas tu sabe quem é, neh?