terça-feira, 10 de abril de 2007

Um dia, eu entendi a música


Foi numa noite de 1986 que o maestro de Chico Buarque, Luiz Claudio Ramos, entendeu a música*

“Ô chefia”, diz o músico Luiz Claudio Ramos. “Ô maestro”, responde Chico Buarque. Eles são parceiros desde 1975, quando trabalharam no espetáculo Chico Buarque e Maria Bethânia. Luiz Claudio é auto-didata, aprendeu quebrando a cara: “É se jogar no meio dos leões e lutar com eles”. Escreve arranjos desde muito cedo “com o talento, no peito e na raça; na sensibilidade, no ouvido: ia lá no piano, procurava, mas sem consciência nenhuma”. Com a mudança de sua família para Copacabana, o piano foi para a sala de estar, e ele, para o quarto, onde estudou violão. Aos 14, diz que já levava a música a sério. Logo depois de completar 16, Luiz Claudio Ramos já tocava com Wilson Simonal.

Mas foi numa noite de 1986 que o maestro Luiz Claudio Ramos entendeu a música. “Eu tive um estalo, uma forma de ver. É engraçado dizer isso, mas, um dia, eu entendi como funcionava a música”. A partir do estalo, elaborou uma metodologia para escrever, compor, harmonizar e improvisar. “É muito simples; eu descobri que, no final, eram quatro as escalas, os universos musicais, que se desdobravam em outras”, afirma. Todas as músicas que fez, desde a descoberta, passaram a usar esse sistema. E foi aí que se considerou músico; até então, tinha medo de estar no meio dos cobrões, achando que não sabia direito o que estava fazendo.

Com Chico Buarque a palavra certa é afinidade

Já dividiu o palco com Johnny Alf, Elis Regina e, por um longo período, com o Quarteto em Cy. Da parceria com Chico, conta que foi uma afinidade desde o primeiro momento. Com o trabalho por Carioca, o último CD do músico, entrou, na opinião da crítica Maria Luíza Kfouri, para o hall dos grandes arranjadores brasileiros. Comentário esse que ele recebe modestamente, dizendo que não considera estar no mesmo patamar de seus heróis Pixinguinha, Radamés [Gnattali], Chiquinho de Moraes. Junto da banda com que tem uma relação “fraterna”, com nomes de peso como Wilson das Neves e Chico Batera, está viajando pelo país.

O show Carioca, mesmo nome do CD, lotou as três sessões que realizou no Teatro Guaíra no início de abril. Somado ao sucesso, o trabalho com Chico tem três qualidades diferenciais: “Fazemos uma música que gostamos, temos uma relação boa e ganhamos bem. É muito difícil você conjugar esses três predicados num mesmo trabalho”. Ele reconhece em Chico uma pessoa generosa, numa contínua busca de não parecer ser a estrela que ele é.

“Ele grava com todo mundo; artistas consagrados, artistas iniciantes. Se você pedir para ele participar num disco seu, ele é capaz de participar”. Mesmo? “Se você jogar umas três peladas com ele [futebol, passatempo favorito do músico], acho que já é 90% de chances de ele participar do seu disco”, completa o maestro que abandonou o segundo ano do curso de Medicina para aprender a teoria da música na prática.

FOTO: Rafael Urban

1ª - O maestro Luiz Claudio Ramos, no início de abril, quando veio a Curitiba tocar no show Carioca.

* Matéria originalmente publicada no Jornal do Estado do dia 09/04/2007.

2 comentários:

Marcelo Cavalheiro disse...

A história prova que um gênio nunca se cria sozinho. LCR é apenas mais um, o mais próximo, e talvez o mais desconhecidos, dos grandes músicos que caminharam junto e fazem parte da formação e sucesso que é Chico Buarque.
Filho de país que já tinham grande intimidade com a música e com a arte, Chico Buarque teve, desde sua infância, o contato com grandes nomes como Tom, Vinicius, João Gilberto, Baden Powell dentre outros nomes. Apesar de ter chego um pouquinho depois, LCR, não deixa de ser mais um destes grandes músicos e letristas que através da amizade, da boemia e de muito trabalho se desenvolveram mutuamente e a musica brasileira como um todo. Parabéns pela a ótima reportagem, e a próxima vez não perca o show!
Grande Abraço.

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado