quarta-feira, 4 de abril de 2007

Imagens que valem ouro



O premiado Adriano Goldman, fotógrafo de O ano em que meus pais saíram de férias e da série Filhos do Carnaval, fala de seu trabalho

Desde os dezoito anos de idade, Adriano Goldman trabalha na produtora O2, de Fernando Meirelles. Começou como assistente de produção; logo depois, já entusiasmado com a imagem, passou a se interessar por câmeras: virou técnico e, mais tarde, operador. 23 anos depois, ele é um dos diretores de fotografia mais renomados do país. Já trabalhou em comerciais, vídeo-clipes e, mais recentemente, em séries como Cidade dos Homens e longas-metragens. No último sábado [24/03/07], aos 41 anos de idade, recebeu dois prêmios da Associação Brasileira de Cinematografia.


Em Filhos do Carnaval, vencedor de melhor fotografia em programa de TV, Goldman traz uma imagem forte e inusitada. Para ele, os créditos têm que ser divididos com o diretor, Cao Hamburger, e com Vera Hamburger, responsável pela arte da mini-série. “No Brasil se acostumou a se trabalhar com essa trinca [diretor, diretor de fotografia e diretor de arte]. Nos EUA, se o fotógrafo do filme sai, entra outro e a produção continua; aqui, se ele sair, o filme pára. O envolvimento do fotógrafo no Brasil é muito grande; é algo muito mais pessoal”, explica Goldman.

As cores da Mocidade Independente de Padre Miguel, verde e branco, orientaram o projeto. As paredes, o figurino, os carros, enfim, tudo o que a equipe poderia alterar, ganha as cores da escola de samba - que é o pano de fundo da história. “Fomos eliminando as cores mais quentes e ficando com as cores mais frias. O Cao [o diretor] me deu uma liberdade muito grande e, ao saturar a cores, acho que cheguei ao limite. Depois de ver algumas cenas prontas, até me arrependi do exagero”, comenta o fotógrafo, também ganhador do prêmio na categoria para longas-metragens.


No começo das filmagens do premiado O ano em que meus pais saíram de férias, também dirigido por Hamburger, Goldman levou um susto: o Bom Retiro, tradicional bairro paulistano, não era “filmável”. A história, que se passa durante a ditadura militar, exigia um trabalho de época, e o bairro não era o mesmo dos anos 60; nem as suas casas, padarias e mercados. A solução foi reconstruir uma quadra inteira. “Como o filme se passa mais perto do inverno, usamos uma luz mais suave, enfocando nos marrons, beges e verde-claros”. Goldman ganhou o prêmio concorrendo com grandes nomes da cinematrografia nacional: Walter Carvalho, Lauro Escorel e José Roberto Eliezer.

Adriano sonha em trabalhar no exterior. Pensa que, desde que o fotógrafo César Charlone foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus, o trabalho dos diretores de fotografia sul-americanos tem ganho mais destaque. Quanto à publicidade, diz que ela o força a trabalhar com mais objetividade; mas deixa de lado a dramaturgia, “o contar uma história”, a continuidade. Continua seu trabalho, agora com o nome mais cobiçado do atual cinema brasileiro, Karim Aïnouz, de O céu de Suely. Adriano Goldman fará a fotografia de uma série para televisão a cabo dirigida pelo cearense.

FOTOS:
1ª - Imagem de Filhos do Carnaval, mini-série exibida na HBO: ao saturar as cores, o fotógrafo acha que exagerou. (Divulgação)

2ª - O ator Michel Joelsas, 12 anos, é o personagem principal do premiado O ano em que meus pais saíram de férias. (Divulgação/Lúcia Loeb)

3ª - O elenco infantil: o grande trunfo de O ano em que meus pais saíram de férias. (Divulgação)

* Matéria originalmente publicada no Jornal do Estado do dia 03/04/2007.

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